Multinacional de rastreamento de ativos prevê novos casos no Brasil com Lava-Jato.

Por Célia Froufe, correspondente para Broadcast (25/10/2018)

 

 

    Londres, 25/10/2018 - Tendo a Petrobras como epicentro, os casos de fraude e corrupção que emergiram com a Operação Lava Jato podem ser mais do que uma forma de "limpeza" no Brasil. Prometem ser um terreno fértil para o negócio de especialistas que estão de olho no trabalho técnico de repatriação dos recursos evadidos do País, como o escritório de advocacia multinacional Gowling WLG, que tem sede em Londres.

 

O presidente da companhia, Andrew Witts, que já trabalhou com sua equipe no rastreamento e na recuperação de ativos frutos de fraudes e corrupção no Brasil, como nos casos do ex-prefeito Paulo Maluf e do Banco Santos, diz que mais buscas podem vir pela frente. "O Brasil é hoje um dos principais trabalhos desse setor da empresa. Estamos procurando por mais casos e acho que, na esteira da Lava Jato, eles existirão", afirmou ao Broadcast, na sede do escritório em Londres.

 

Sob o ponto de vista ético, o britânico também avalia que a Operação Lava Jato é uma investigação bem sucedida e que tende a mudar o comportamento das pessoas, bem como a forma como os partidos políticos buscam recursos para suas campanhas. "Foi bom ter acontecido, pôs pressão sobre o tema. Porque isso (a corrupção) vinha acontecendo sucessivamente através dos tempos. Acho que teve algum impacto", considerou.

Para o presidente, está claro que há um problema sistêmico no Brasil. "Não se trata apenas de corrupção política, mas de pessoas que colocam dinheiro em empresas, as reestruturam e depois as valorizam, manipulam preços de ações para comprar ou vender. É um problema", mencionou. Ele salientou que é difícil encerrar de vez com uma cultura tão arraigada como esta, mas a certeza que se tinha no passado, por exemplo, de que poderosos eram intocáveis, já ficou para trás. "Olha o Paulo Maluf, como foi arrogante até o momento em que foi preso", lembrou.

 

Amanhã, Witts participa no Brasil da inauguração do Instituto Brasileiro de Rastreamento de Ativos (Ibra). No seminário internacional sobre o tema, para marcar o início das atividades no Brasil, ele se preparou para falar sobre a ferramenta como uma forma de combate a fraudes e corrupção e destacar que, para que um processo surta efeito, é preciso um trabalho conjunto entre o setor público e privado.

 

Até porque os números que envolvem as técnicas de rastreamento são colossais. A Transparência Internacional avalia que cerca de US$ 1,8 trilhão seja desviado todos os anos por prática de corrupção, evasão fiscal e crime organizado. O Banco Mundial acredita que as cifras atinjam entre US$ 20 bilhões e US$ 40 bilhões anualmente apenas no caso de países em desenvolvimento. (Célia Froufe, correspondente - celia.froufe@estadao.com).

O presidente da Gowling WLG, Andrew Witts. Foto: Célia Froufre/Estadão

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